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Invasão “brochante” do Rock

Pedimos desculpas. A matéria que o Trilhas da Cultura Carioca publicou em 16 de Agosto de 2011, sob o título de A nova cara do rock carioca: Invasão Underground, foi imensamente infeliz.

Lemos a proposta do referido festival, conversamos com representantes de bandas que iriam participar do evento e buscamos conhecer a credibilidade de seus produtores antes de recomendarmos a proposta em nossa editoria Agenda Cultural. Infelizmente, como jornalistas, não temos a capacidade de prever o futuro e o que ocorreu – de fato – foi um “espetáculo”.

A Invasão Underground, produzido por Marcelo Freitas, que aconteceu hoje, em Cavalcânti, no Galpão do Rock, foi um espetáculo mercenário de desrespeito, descaso e falta de profissionalismo com todas as bandas que participaram do evento e com seus convidados.

O produtor Marcelo Freitas

O produtor do Invasão do Rock, Marcelo Freitas, em foto retirada de seu Facebook.

A qualidade do equipamento de som estava precária. Amplificadores com mal contato, quebrados, recauchutados e em estado irregular fizeram um par perfeito e brilhante com uma bateria que – literalmente – caía aos pedaços no decorrer das apresentações. Tudo isso regado a uma incrível microfonia e falta de potência dos projetores de voz, que tornava incompreensível qualquer tentativa de comunicação – por parte dos cantores – usando a língua portuguesa (ou qualquer outra).

Para completar a falta de respeito com os músicos, Marcelo Freitas, produtor do evento, achou por bem deixar uma televisão ligada – com som – durante a apresentação das bandas. Simplesmente um “Vasco X Flamengo“, que roubava a atenção para a televisão da maior parte do pequeníssimo público que lá estava.

Para se ter noção do naipe do evento, duas bandas preferiram não se apresentar a passar pela intrépida experiência.

Parecia inacredtiável. Mas inacreditável mesmo é que as onze bandas, incluindo as desistentes, que estavam inscritas no festival tenham pago R$ 120,00 para estar lá. “Macaco velho” que é, o produtor exigia o pagamento antecipadamente à apresentação de cada banda. Infelizmente esta é uma prática bastante comum em pseudo-produtores de evento no cenário carioca. É o famoso esquema “pagar para tocar”, muito conhecido no meio underground.

A fórmula do “esquema” é simples. Primeiro, aluga-se uma garagem, um galpão, ou algum recinto subutilizado, onde poderia acontecer qualquer coisa, menos um espetáculo musical. Usando o velho papo de “essa é uma grande oportunidade de mostrar o seu trabalho“, o produtor do evento mexe com o sonho das bandas, gerando uma expectativa irrealizável.

Daí surge a grande proposta: “Te dou 30 ingressos, você vende por quanto quiser e me retorna somente R$ 120,00″. Parece fáfil, mas é difícil. Uma banda iniciante não tem um público de 30 pessoas. Na verdade, geralmente, não tem público nenhum. E não torça o seu nariz achando que é exagero. Os produtores desse “esquema” sabem muito bem disso.Todo o esquema ocorre à luz de um contrato mal redigido que precisa ser assinado antecipadamente pelo representante de cada banda, para intimidar os participantes a não poderem desistir do evento. Ou seja, mesmo que a banda não se apresente, o dinheiro tem que ser entregue ao produtor.

É um esquema e tanto. O “produtor” se lixa para a divulgação do “evento”, que fica a cargo das bandas. Estas, por sua vez, ficam obrigadas a fazer o papel de marqueteiros do evento, visando vender algum ingresso e minimizar seu prejuízo. Elas não vendem. Quando vendem é para pais, mães, namorados, namoradas e afins, com a súplica: “dá uma moral pra gente lá”. Se não for ninguém, o produtor ainda sai com R$ 1.320,00 no bolso, “livre de impostos”.

Quando digo “livre de impostos”, digo que o dinheiro é entregue em espécie e não há qualquer recibo de pagamento, embora haja contrato de compromisso. Apesar de trazermos essas informações, que servem somente para contextualizar o leitor, o Trilhas da Cultura Carioca não está afirmando que o “produtor” Marcelo Freitas não declara sua renda (sem recibos ou comprovantes) à Receita Federal, nem que não desconta o INSS relativo ao pagamento de possíveis funcionários, bem porque estas seriam práicas fraudulentas com sanções previstas no Código Penal e no Código Tributário Nacional.

Após a entrevista com um participante do envento que pediu para não ser identificado, o Trilhas da Cultura Carioca deixa a dica: antes de assinar qualquer contrato, certifique-se de que ele contenha – discriminadamente – todo o equipamento que a produção do evento usará, bem como traga dispositivos que justifiquem a não execução da banda – sem qualquer multa – em caso de quebra de contrato por parte do produtor.

Temos como premissa tratar com muito respeito nossos frequentadores e, novamente, o Trilhas da Cultura Carioca pede desculpas aos seus leitores por indicar o Invasão do Rock, um evento de tão baixa qualidade técnica e ética.

 
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Publicado por em 28 de agosto de 2011 em Crítica

 

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